Universidade Aberta

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MPEL 05

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Entrevista

Entrevista ao Professor António Moreira Teixeira realizada em Dezembro de 2011.

1-    De acordo com a sua experiência, como encarava o ensino online à cinco anos atrás?

Há cinco anos atrás (2006), a minha experiência de docência online era substancialmente diferente. Na verdade, a UAb não possuía uma política institucional de educação virtual, nem sequer digital, à altura. Só em meados desse mesmo ano se estabeleceu a virtualização da universidade e da sua prática pedagógica como um objectivo estratégico de desenvolvimento a curto/médio prazo. Neste sentido, em 2006 não existia ainda um modelo pedagógico institucional, muito menos focado no ensino online, nem sequer uma infra-estrutura tecnológica institucional de suporte (plataforma e portal académico).
Este contexto aliado aliava-se a um ambiente tecnológico ainda claramente anterior à Web 2.0 e especialmente ao sucesso retumbante e, de certo modo, inesperado das redes sociais.
Estes factores condicionavam uma perspectiva da educação online como já fortemente colaborativa, mas ainda muito baseada na construção de comunidades fechadas, bem como na importância do pré-empacotamento dos conteúdos. Com efeito, a relevância dos ambientes virtuais de aprendizagem padronizados e especialmente desenhados, bem como dos recursos disponibilizados previamente era ainda muito elevada.
Em certa medida, a perspectiva que se tinha do ensino online ainda era muito afectada pela sua valorização comparativa com a aprendizagem em ambiente presencial.

2-    Quais as alterações que tem verificado do ponto de vista do papel do professor online?

Do ponto de vista do professor online, a principal alteração tem a ver com a redefinição do seu papel. O professor é cada vez menos um transmissor de conhecimento, ou mesmo um gestor de uma comunidade de aprendizagem, mas um nó na rede de ligações que cada aluno estabelece para aprender algo. A tarefa docente online complexificou-se, na medida em que a pressão do desenvolvimento tecnológico o forçaram a ser especialista em múltiplos domínios (conhecimento disciplinar, tecnológico, psicológico, sociológico, ético, etc.). Em boa verdade, o professor online tem de ser hoje um competente gestor de pessoas, das suas aspirações, problemas e anseios.



3-    Quais as técnicas de ensino online que utilizava? Quais as que prefere agora? Quais as que pensa vir a utilizar em 2016?

Há cinco atrás, o ensino online na UAb, concentrava-se praticamente em absoluto em três ou quatro cursos de mestrado e um ou dois cursos livres sem grau oferecidos pelo Departamento de Educação (na altura designado Departamento de Ciências da Educação). Não existia, como atrás referido, um modelo de ensino estabilizado, embora o departamento tivesse desenvolvido alguns documentos pedagógicos normativos de carácter genérico.
Na altura, estava-se ainda a estrear a utilização da plataforma Moodle, o que representava um avanço importante do ponto de vista da facilidade de utilização e potencialidades do ambiente virtual em relação aos anteriormente utilizados. Do ponto de vista pedagógico, porém, o meu enfoque dirigia-se ao trabalho de leitura e interpretação individual de textos e outros materiais escritos de suporte fornecidos no espaço virtual e à discussão de temas e problemas em grupo-turma propostos e moderados pelo professor.
Posteriormente, com a implantação do Modelo Pedagógico Virtual e a universalização da utilização da Moodle, bem como do enorme sucesso das ferramentas sociais, o enfoque mudou substancialmente. Nos últimos anos tenho vindo a utilizar de modo sistemático e intensivo wikis (a actividade inicial em todos os cursos que lecciono organiza-se em torno de uma construção colaborativa em wiki de uma definição-padrão para um conceito fundador do curso em causa), por vezes com retro-alimentação externa à comunidade de aprendizagem, blogs individuais dos estudantes, intervenção organizada dos estudantes em blogs externos à comunidade e aprendizagem, capacidade de pesquisa individual e colectiva de materiais de aprendizagem em motores de busca externos e redes sociais, utilização cada vez mais intensiva de recursos abertos (nomeadamente de natureza videográfica) como materiais de referência, etc. Isto para além da utilização dos fóruns, ainda que cada vez menos na modalidade moderada pelo professor e mais na de auto-moderação pelo grupo ou sub-grupos (equipas de trabalho pré-escolhidas).
Em 2016, parece-me evidente que o ambiente de aprendizagem será ainda mais aberto e por isso múltiplo, funcionando na nuvem. Não estou certo, porém, que a implantação institucional de ambientes pessoais de aprendizagem se faça de modo acelerado. Há vários aspectos a salvaguardar, tal como a utilização de REA (OER) num contexto de aprendizagem formal ainda tem pela frente importantes desafios. Todavia, creio que a tendência será a de utilizar ambientes de aprendizagem cada vez mais individualizados e construídos a partir de múltiplas ferramentas existentes. Assim, as instituições oferecerão não um espaço definido, mas um leque de opções de construção do espaço de cada estudante. O mesmo se aplicará aos professores/tutores/instrutores.
Assim, imagino o «meu» espaço de ensino online em 2016 como um misto de ferramentas abertas e também comerciais organizadas em nuvem (não sedeadas institucionalmente), no qual os estudantes terão maior capacidade de definir os seus próprios percursos de aprendizagem, bem como os respectivos recursos e que sejam cada vez mais responsabilizados (avaliados) pela materialização dos resultados dessa mesma aprendizagem. No final do percurso é o resultado dos vários produtos realizados que é avaliado e esse mesmo deve ser público (e-portfólios abertos). Naturalmente, nem tudo será nem poderá ser aberto. Entendo o meu papel como o de um treinador (entre manager e coach), alguém que organiza a interacção do grupo, que desenvolve as capacidades individuais e colectivas do mesmo em função de metas de desenvolvimento a curto, médio e longo prazo e que o faz permanentemente em privado, para que o grupo o demonstre regularmente em público o resultado dessa aprendizagem.
4-    O que pensa que irá acontecer para 2016. Quais as grandes alterações na prática pedagógica online?

Como referi atrás, creio que os grandes desafios dos próximos anos são o da gestão entre abertura e reclusão dos espaços de aprendizagem, o da crescente automatização de algumas tarefas tutoriais, o da crescente participação dos estudantes na definição e estruturação dos percursos de aprendizagem (mesmo formais) e na escolha dos respectivos recursos, e ainda o da alteração das metodologias de avaliação e certificação das aprendizagens.
No que respeita ao primeiro, é evidente que a utilização de ambientes de aprendizagem parcial ou totalmente abertos, comporta uma alteração substancial no papel do professor ou tutor. A exposição pública do percurso de aprendizagem individual e colectivo, para além da possibilidade destes serem condicionados pela intervenção de elementos externos, escolhidos ou não pelos próprios alunos, com carácter pontual ou regular, implica uma gestão muito mais flexível dos conteúdos programáticos e uma atenção redobrada aos aspectos psicológicos e éticos da aprendizagem.
A crise económica em que parte importante do mundo mergulhou terá necessariamente repercussões na prática educativa. Assim, uma crescente pressão para a diminuição dos custos, aliada à escassez de recursos humanos, convidará previsivelmente à adopção da tecnologia com vista a diminuir o custo do factor humano na educação. Também na educação online tal movimento encontrará previsivelmente eco, pela automatização de algumas das funções tutoriais típicas. Não se tratará da imposição de uma cultura de auto-aprendizagem pura, mas de introdução de processos de transferência de algumas das funções tutoriais para o próprio estudante (assistido por recursos tecnológicos) ou para a comunidade (procurando diluir os custos com economias de escala).
Conjuga-se com este aspecto um outro, o do aumento da participação do estudante na construção da sua solução de aprendizagem individualizada. Como consequência de todos estes elementos, as práticas de avaliação terão de mudar, adaptando-se. O recurso a práticas de auto-avaliação e avaliação individual pelo grupo ou pela comunidade (turma), serão progressivamente disseminadas, a meu ver, mesmo em contextos formais.


5-    Como caracteriza o papel do aluno desde 2006 até aos dias de hoje?

O papel do aluno tem vindo a mudar substancialmente. No início, o aluno era ainda entendido como um sujeito passivo no âmbito de um processo comunicativo. Embora, em 2006, já estivesse estabelecido o primado da aprendizagem como um processo social de construção colaborativa de um conhecimento, esse processo era entendido como o de um colectivo pré-estabelecido, no qual o aluno individual era apenas um actor de um enredo que o ultrapassava. Na verdade, ele era ainda um destinatário do processo comunicativo estabelecido por quem detinha o controlo da comunidade.
Hoje em dia, e cada vez mais no futuro, o aluno individual tem-se libertado e assumido como agente co-criador da própria comunidade. Assim, ele define a sua rede de ligações sociais relevantes para o processo de aprendizagem, participa no estabelecimento do percurso de aprendizagem e na construção dos respectivos momentos. Ganhou portanto uma renovada autonomia no processo educativo.



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